O comandante-geral da polícia angolana, Paulo de Almeida, assegura que a “Operação Resgate”, iniciada em Novembro para “repor a autoridade do Estado”, vai “continuar com mais força”, porque Angola “precisa de ordem, disciplina e respeito pelas pessoas e instituições”. Mais força? É mesmo isso que o país precisa. Não interessa a força da razão mas apenas, à boa maneira do MPLA, a razão da força.
O comissário-chefe Paulo de Almeida, que falava na cerimónia de cumprimentos de Ano Novo, afirmou que a operação veio demonstrar que o país “estava a caminhar para uma anormalidade”. Tem toda a razão. O caminho para a anormalidade foi iniciado há 43 anos e até admira como ainda há uns laivos de… normalidade.
A operação visa reforçar a autoridade (na prática trata-se de autoritarismo) do Estado em todos os domínios, reduzir os principais factores que provocam desordem e insegurança, bem como os da violência urbana e da sinistralidade rodoviária, aperfeiçoar os mecanismos e instrumentos para a prevenção e combate à imigração ilegal e proibir a venda de produtos não autorizados em mercados informais.
Por outras palavras, na “Operação Resgate” nada escapa. Cabe lá tudo. Se necessário for, as força envolvidas até vão pôr os rios a nascer na foz e a desaguar na nascente. É que a equipa de João Lourenço não brinca em serviço e nem os jacarés (já para não falar nos marimbondos) estão seguros.
“Muitos foram os aplausos e muitas as contestações fazendo com que certos cépticos se posicionassem em cima do muro à espera do fracasso desta operação, que se iniciou a 6 de Novembro, combatendo práticas anti-sociais com vista a repor a autoridade do Estado”, começou por apontar o comandante da polícia angolana, acrescentando que, contudo, a operação “veio demonstrar que o país estava caminhando para uma anormalidade que já se estava a considerar normal ou institucional”.
Mais uma vez Paulo de Almeida tem razão. A malta que (ainda) teima estar em cima do muro que se cuide. É que as autoridades têm ordem para deitar o muro abaixo e soterrar (acidentalmente, é claro) nos escombros os marimbondos que passam a vida a azucrinar os donos da verdade.
“Todos hoje reconhecemos que o país precisa da ordem, de mais autoridade (…). Com isto vimos melhoramento do sentimento de segurança, uma redução do crime, maior fluidez na circulação e bens, melhor protecção dos bens públicos, legalização das actividades e não só”, acrescentou Paulo de Almeida.
É verdade. Em abono da verdade devemos reconhecer que até o satélite Angosat se rendeu aos operacionais da “Operação Resgate”, tal como se assistiu a uma redução dos 20 milhões de pobres em 0,0001%, a um aumento do emprego em 0,0002%, a uma redução da mortalidade infantil em 0,0003% etc. etc..
“Por isso, a Operação Resgate vai continuar com mais força e sob a nossa capitania”, assegurou Paulo de Almeida. E assegurou mais uma vez com toda a razão. A relevância deste operação é de tal ordem que poderá levar mesmo ao fim de todos os que não são do MPLA. Sim, que o objectivo único é levar todos os angolanos (sobretudo os de segunda categoria) a entender que na nossa “democracia” todos mandam mas só o MPLA decide.
Perante centenas de efectivos, o comandante-geral deu conta que 2019 será um ano em que a Polícia “continuará a apostar na formação, a vários níveis, do ensino policial, reestruturando a organização e funcionamento de esquadras e postos policiais”. Isto quererá dizer que a “Operação Resgate” chegará aos próprios polícias?
Paulo de Almeida garantiu ainda que vai avançar o redimensionamento da organização das estruturas centrais, a favor das unidades de base e as operacionais. No âmbito operativo, aquela força de segurança quer “aumentar a cobertura policial, introduzindo sistema tecnológicos de prevenção, controlo e vigilância”.
“Vamos melhorar os mecanismos das informações policiais, assim como as unidades de reacção da ordem pública”, realçou.
Aos cidadãos, o comandante-geral da Polícia exortou para o “respeito e obediência” às “instituições e agentes da autoridade”, evitando, observou, a “confrontação física ou letal”.
Confrontação física ou letal? Será que o pessoal que está em cima do muro, ou as zungueiras (por exemplo), estão armados? Se Paulo de Almeida fala nisso… Aliás, o Folha 8 apurou que alguns desde perigosos inimigos da “Operação Resgate” andam normalmente armados com esferográficas BIC (azuis), lápis de carvão (vermelhos), blocos de papel (brancos) e um livro sobre a ditadura…
“O poder e a autoridade nunca podem ser abalados. Aquele que tentar terá a resposta à medida”, rematou o comissário-chefe da Polícia.
Folha 8 com Lusa